Tenho recebido algumas mensagens com perguntas relacionadas ao perfil da turma: “Meus alunos não param um minuto, conversam todo o tempo”.

Tem muitos questionamentos envolvidos no que podemos conceituar como gestão da sala de aula. Diferentes nomes são dados para essa característica de agitação dos alunos. Com o tempo, fui tentando substituir esse nome por outros, para que eu pudesse descobrir a causa do comportamento. Por exemplo: quando os alunos estão tão envolvidos em uma atividade que as vozes ficam mais altas, as visitas aos amigos também se tornam mais frequentes, porque a notícia da alegria da atividade “precisa” ser espalhada. Enfim, o que estou querendo dizer é que a turma não é, mas está agitada e precisamos saber o porquê.

Quando paramos para ver as causas, pode ser que nos sintamos frustradas, pois certas coisas não dependem de nós para serem mudadas, como por exemplo, o número excessivo de alunos, a escassez de recursos materiais (até mesmo um ar condicionado que falta nos dias mais quentes, nao é?), a possível desorganização dos materiais que retornam das casas, a fome (nao é verdade? Tem crianças que esperam ansiosas o horário da merenda escolar), os ritmos diferenciados dos alunos, as atividades extra-classes e festas da escola que viram ensaios. Quem é professora deve estar me entendendo! Citei estes exemplos para que possamos pensar quantas coisas atravessam o nosso dia-a-dia da sala de aula e, por vezes, classificamos a turma como agitada, quando na verdade, eles estão inseridos em um contexto de agitação. Vejamos, com isso, quantas coisas precisam estar equilibradas para que possamos organizar o nosso grupo e o nosso planejamento.

Quem vos fala é uma professora que já esteve em diferentes escolas e sabe bem da realidade da sala de aula. Tive turmas inesquecíveis, muito “borbulhantes” e há algo em comum entre todas elas: as crianças se envolviam pra valer nas atividades. E isso era muito bom! Mas nao excluo aqui o quanto é frustrante preparar todo um planejamento e não conseguir fazer nada porque, naquele dia, os conflitos foram intensos ou a fala ininterrupta. Com a minha experiência, aprendi algumas coisas que me ajudaram nessa gestão do grupo e que hoje compartilho com vocês:

Relação íntima com o grupo: Não esqueço que, no meu estágio da Pedagogia, minha orientadora me dizia: “Clarissa, você precisa se apaixonar pelos teus alunos, eles realmente são borbulhantes, mas se apaixona”! Que frase sábia, tirar o foco do problema e colocar nas pessoas, reparar o que nos encanta na criança que nos tira do sério 🙂 – e elas são as que encantam mesmo! Comecei a contar muito da minha vida pessoal para eles, levava fotos, fiz piquenique no pátio, fazia rodinha para falarmos da nossa vida pessoal. Chegar mais perto dos alunos, perguntar sobre os seus materiais, deixar bilhetes inesperados ajuda bastante!

“Vizinho” imaginário (até hoje, a mesma turma que falei anteriormente, não sabia que era imaginário, será que vão ler meu texto?): O vizinho era levemente “sem limites”, por coincidência, tinha a idade deles. Aprontava coisas como não ouvir as pessoas no elevador, reclamava na hora de ir para a escola, machucava os amigos do prédio. Todo o dia eu fazia uma fofoca do vizinho para a turma e eles iam me dizendo que conselhos eu deveria dar para meu amigo imaginário. Eles não sabiam que, juntos, estávamos trazendo soluções para o grupo e, volta e meia, um já dizia para o outro: “Você está igual ao vizinho da profe”.

Recursos: Por vezes, pelas atitudes mais agitadas ou até impulsivas dos alunos, esquecemos que eles são crianças. Crianças que estão em desenvolvimento e, ainda, alunos aprendendo a ser alunos. Isso é cultural, eles precisam ser ensinados e apresentados ao mundo de socialização. Qual não foi minha surpresa quando, em turmas de alunos maiores, eu brincava de pozinho mágico na hora da fila, meia-meia-lua, chapéu maluco (olhos fixos e boquinha fechada porque quem usa o chapéu tem a palavra), despertadores, palmas…

Combinações da turma: Eu sou da opinião de que precisa, sim, existir as regras do grupo, porém, combinações criadas por eles. Como fazer isso? Perguntando como eles se sentem bem na escola e o que precisam fazer para que isso aconteça. Por vezes, pode ficar um pouco “moralista”, eles falam o que as professoras querem ouvir. Eu sempre gostei de deixar eles pensarem em pequenos grupos, conversando sozinhos. Depois compartilham com o grande grupo e se criam metas, para serem alcançadas em um determinado período de tempo. Não adianta escrever as regras em um cartaz e nunca mais revisitá-las.

Atividades extras: Tenham a combinação prévia do que pode ser realizado quando se termina uma atividade que não está sendo feita coletivamente. Gibis, adivinhas, fichas de atividades diversificadas, jogos. E não esqueçam: tem que ser atividades que os alunos possam fazer com autonomia, para que você continue engajada com aqueles que terminam a tarefa principal.

Caixa da fofoca:  Para que a gente não fique sempre resolvendo conflitos, precisamos deixar que a raiva do momento da discussão com o colega passe. Uma estratégia é pedir que eles escrevam. O tempo da escrita já baixa a adrenalina e eles podem até desistir e conseguir se entender com o colega. Uma urna simples, com bilhetes que podem ser anônimos sobre o que está chateando em relação aos conflitos. Eu retirava os bilhetes duas a três vezes por semana e explorávamos o que estava escrito. O mais legal foi quando começamos muito mais a trabalhar a leitura, ortografia e o gênero bilhete do que apenas os conflitos em si. Às vezes eles só querem ser ouvidos, a raiva pode passar. Claro, temos que cuidar, não vamos ignorar os casos mais graves.

Rotina: isso é muito importante, planejar o que acontece em cada dia e deixar os alunos apropriados disso. O que é atividade permanente, que acontece todos os dias da semana e o que é específico do dia. Por vezes queremos inovar tanto que acabamos não equilibrando o tempo pedagógico. Isso também é gestão, pensar os objetivos a partir do perfil do grupo. (Assista a aula ao vivo sobre planejamento).

Cuidado com os transtornos do neurodesenvolvimento: É comum, infelizmente, a gente não ter diagnóstico precoce do TDAH, por exemplo, e não sabermos que aquele nosso aluno “que não consegue parar” não está agitado ou mal-educado, ele realmente tem um transtorno do neurodesenvolvimento e precisa de ajuda médica, terapêutica ou psicopedagógica. Por isso, aqui entra o nosso conhecimento. Precisamos nos qualificar, conhecer as patologias, os sintomas dos transtornos, os processamentos cognitivos da aprendizagem. Isso ajuda muito! Eu já fiz um vídeo com estratégias para ajudar crianças com TDAH. Assista.

Sistematizações e regras: Nos momentos lúdicos, precisamos explicar com detalhes e clareza como são as regras da atividade ou do jogo, podemos criá-las coletivamente e registrar na lousa. Planejar as sistematizações, não fazer o jogo pelo jogo sempre, mas saber como aquilo servirá de motivacão para uma nova atividade mais sistematizada.

Ameaça com bilhetes: não adianta ameaçar que vai enviar bilhete para casa. Vamos cuidar com essa atitude porque pode nos desautorizar. Os alunos precisam saber que, sim, também temos autoridade e precisamos ser respeitados e isso a gente só vai conseguir se tivermos um ambiente acolhedor, planejado e sensível. Caso seja necessário entrar em contato com a família, acho bacana que a própria criança escreva o bilhete contando o que aconteceu.

Alunos participantes do planejamento: Os alunos não podem apenas receber o planejamento pronto, mas serem sujeitos participantes das atividades e “pensadores” das novas tarefas. Por isso, eles devem se “enxergar” na sala de aula, construir os cartazes, ver fotos deles realizando alguma atividade, sugerir, pesquisar os assuntos que estão sendo abordados, falar – sim, aproveitem que a escola é, ainda, um dos poucos lugares em que ainda conversamos ao vivo com outras pessoas. Neste vídeo já dei dicas sobre isso:

 

Com essas dicas não quero ignorar todas aquelas interferências que citei no início, contudo, escolhemos – por algum motivo – estar na escola que atuamos. E, não apenas isso, nosso ambiente de trabalho precisa ser saudável, para que possamos estar bem, nos sentirmos bem. Continuemos lutando por uma educação de qualidade ao mesmo tempo em que “fazemos do limão uma limonada”, com diferentes estratégias!

51 respostas

  1. Rsrsrs…. quase não consegui prestar atenção na sua fala…. encantada com o brinquedo que está no fundo!! Rsrsrs

    Excelentes ideias Clarissa!

  2. Amei as dicas. Eu sou KidCoach e para esta questão aplico a técnica chamada “papo cabeça em grupo” que consiste basicamente em levar os alunos a darem a solução para o problema da indisciplina, pois quando a criança cria as ações necessárias para resolver um problema as chances dela se comprometer com isso aumentam muito. Usando esta técnica eu nunca mais tive problemas com isso, a turma soube muito bem participar das aulas e fazer silêncio quando necessário! Um simples comando e “voalá” todos em silêncio pra eu explicar a matéria ????

  3. Tive uma turma agitada ano passado, segundo ano. Consegui perceber que eram muito participativos e envolvi no processo de ensino/aprendizagem. Leitura dos textos de livros e apostilas dividia em partes e perguntava quem queria ler, para me ajudar, que só eu lendo cansava minha garganta. No começo sempre eram 2 alunos, depois foram aparecendo mais. Assim conforme mais alunos desenvolviam a habilidade de leitura também já se ofereciam para ler. O bacana que a turma esperava o ritmo de cada um (claro que tinha aquele que reclamava que não entendia, que o colega não lia rápido, etc), e todos acompanhavam a leitura e interagiam com comentários e perguntas sobre o assunto lido.

  4. Adorei as dicas Clarissa!!! Uso tbm o momento do desestresse, onde os alunos expõem as aflições e depois fazemos alongamentos, pelo menos 2x na semana, segunda e quinta-feira!!!

  5. Sempre faço uma contação de histórias,nem que seja uma historinha bem pequena e eles se concentram bastante.Faço essas dicas citadas e realmente são ótimas, só não fiz ainda das fotos,tiro fotos mas nunca entreguei para a produção de frases ou texto,gostei da dica é vou colocar em prática!!

  6. Sua orientações são ótimas, em minha sala do 3º ano dos anos iniciais do ensino fundamental , construímos um contrato onde eles criaram as regras de convivência ,tiramos uma foto do grupão e todos assinaram embaixo ficou exposto o ano td .Os funcionários da escola elogiaram muito a mudança de comportamento das crianças. A afetividade também é muito importante ,elas se sentem amadas , confiantes e respeitam mais os colegas e o espaço escolar .

  7. MINHA AMADA E QUERIDA PROF.CLARISSA PEREIRA@PEDAGOGA!!!
    ASSISTIR SUAS LIVES,TROCAR IDEIAS COM VOCÊ,COM @S COLEGAS DE GRUPO,LER SEUS TEXTOS E COMENTÁRIOS,COMPARTILHAR DOS SUCESSOS DOS COLEGAS,INTERAGIR NAS LIVES,UTILIZAR AS SUGESTÕES RECEBIDAS DE CADA UM DOS PARTICIPANTES DO CAP TEM SIDO DE UMA SATISFAÇÃO TÃO GRANDE QUE NÃO CONSIGO DESCREVER…MEUS COORDENADORES E ALGUNS COLEGAS DE TRABALHO ESTÃO SE DELICIANDO DAS SUGESTÕES QUE TENHO COMPARTILHANDO COM ELES…AS CRIANÇAS AOS POUCOS ESTÃO APRENDENDO…PRA MIM JÁ ESTÁ DE BOM TAMANHO O AVANÇO EM TÃO POUCO TEMPO…VOCÊ É MINHA INSPIRAÇÃO E SOCORRO! BJOS MENINA LINDA!

  8. Todas as dicas colocadas são de uma relevância tremenda profe.Sempre estou reunindo com minhas coordenadoras e gestores escolares e me referindo a voce e suas sugestões…Eu fico encantada com tudo o que você propõe. De fato o que na verdade precisa acontecer é a confiança dos “borbulhentos” para com o professor.O amor,a harmonia e os acordos…O diálogo sempre em qualquer situação pra mediar a interação e o crescimento da turma em todos os sentidos.Mais uma vez confesso que o CAP e você cairam do céu pra mim e certamente para tod@s @s colegas do grupo. Bjo grande e obrigada pelas contribuições…

  9. Olá querida Clarissa,
    Assisti seu vídeo e li seu artigo e confesso que senti-me um pouco dentro do material analisado, pois por muitas vezes não sabemos o que fazer com tanta agitação e indisciplina, mas ao mesmo tempo conseguimos com um jeito controlar toda a situação.
    Parabéns e obrigada pela oportunidade!

    Bjs,
    Lúcia Balestro

  10. Olá! Boa noite! Amei suas dicas! É muito parecido com a minha realidade. Muito obrigada! Que você continue auxiliando e ajuda-nos. Parabéns!

  11. Olá! Prô Clarissa, tudo bem?
    Sugestões perfeitas! adorei.
    Quando a minha turma está muito agitada eu paro tudo.Retorno para roda e trabalho um exercícios de respiração. Do tipo cheira a florzinha e sopra a velinha ele adoram. E depois retornamos as regras do dia.

  12. Amei cada Video seu Professora, vc é uma inspiração pra nos professores, e nos proporciona um grande aprendizado .
    Sou pedagoga , especialista em Ed. inclusiva, hoje trabalho em casa como professora de reforço e atendo alunos até o quinto ano, então meu ensino é multe seriado, faço uso de muitas estratégias para dar conta da turma que são de 12 em cada horário de uma hora e meia para cada turma e uma das estratégias é Seleccionar aqueles que são mais agis e que posam me ajudar com os colegas, deu muito certo, muitos se esforçam pra estarem nesse posto e me ajudarem com os outros, com isso ninguém quer ficar pra trás….Sonho em fazer Mestrado e Doutorado….. Já me formei bem tarde e enfrentei muitas dificuldades pra chegar até aqui…. Mãe de dois filhos , marido tentando tirar minhas forças, mias me formei… bjs e lhe admiro muito, principalmente por ser tão jovem.

  13. Amei suas dicas. Estou voltando às salas de aula com os pequenos pré e um 1° ano em escola pública. É muito legal interagir com eles bem assim como vc fala no vídeo, eles criam, participam e isso torna mais produtivo e gostosa a aula. O tipo passa e nem se percebe. E eles no fim olham pra gente e dizem: ” Acabou? Tava bom, amanhã tem mais ne prof? A aula taba boa! Enfim, são falas assim q nos fazem ir tidos os dias e dar nossas aulas sabendo q estamos contribuindo para a formação e o aprendizado deles. Abraço

  14. [email protected]
    Gostei demais suas ideias. Realmente estou pedindo socorro. Turma 4 anos se juntam contra minhas advertências, minhas regras estão mal colocadas. Sobem em tudo, sempre outros imitam e um protege o outro. Deixo meu e-mail caso posso passar mais ideias, também gostei ideias Clarissa vou colocar tudo em prática e aguardar com paciência abraços.

  15. Que dica liiiinda. Adorei e consegui ter uma base para controlar um pouco a turminha. hehe
    Parabéns Clarissa vc é ótima
    Bjoos e bom final de semana

    1. Que ótima notícia, Joice!

      É muito bom saber que as dicas que nós passamos por aqui realmente estão sendo aplicadas.

      Continua nos acompanhando!

      Abraços, Camila #EquipeClarissaPereira

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